sexta-feira, 12 de março de 2010

Meu amigo Charlie Brown


Tenho uma mania de sonhar com personagens de História em Quadrinhos. É a forma que meu psiquismo às vezes encontra pra resolver, de forma bem humorada, as angustias e dificuldades do dia-a-dia. Como se tivesse mostrando que a melhor maneira de encarar o limão nosso de cada dia, é fazendo uma bela limonada.

Transformo, por exemplo, pessoas temperamentais ou destrambelhadas em Patos Donalds e depois disso, consigo lidar bem com elas. Pessoas desligadas e distraídas transformo em Patetas; mulheres coquetes ou ingênuas, em Bettys Boops; amigas bravas e malcriadas em Mônicas (do Cebolinha), e por aí, vai... Constantemente depois desses sonhos, acordo gargalhando e achando que, como me disse um amigo outro dia, a vida não passa de uma História em Quadrinhos.



Esta noite sonhei com Charlie Brown, menino sensível, tolerante e reflexivo, preocupado com os outros e com o mundo, dono de um cachorrinho chamado Snoopy, cuja personalidade é de uma irreverencia filósofal.



Acordei no meio da noite, sorrindo e cantando uma velha canção de Benito de Paula que dizia: “Ei, meu amigo, Charlie, ...ei, meu amigo Charlie Brown... se você quiser, vou lhe mostrar, a nossa São Paulo terra da garoa, se você quiser, vou lhe mostrar, o Rio de Janeiro, nossa gente boa...”.



Depois, de manhã, lembrei-me do sonho e fiquei a matutar quem eu havia transformado em Charlie Brown. Imediatamente veio-me uma recordação muito boa de alguém com quem eu convivi a maior parte de minha vida e que, além de ter representado coisas muito importantes para mim, foi também, meu melhor amigo.

Essa pessoa me rodeava de atenções, carinhos e considerações e eu, muitas vezes, o tratava como a personagem Lucy tratava seu amigo Charlie Brown. Cheia de questionamentos e praticidades, colocando-o sempre na berlinda, desafiando-o a responder suas questões existenciais e filosóficas. Assim como Charlie Brown, meu amigo também levava tudo o que eu falava muito a sério e trazia-me respostas, senão sempre convincentes, na maioria das vezes, confortadoras.

Hoje em dia, percebo, que era aquele aconchego e cuidados que ele tinha para comigo, que me deixava sempre bem e com a ilusão da serenidade e segurança.

Aprendi muito com este amigo, pois o que ele trazia como resposta para minhas angustias era sempre uma mensagem de coragem e luta, e com isto alimentava a minha esperança.

A última mensagem que ele me deixou foi de um texto de Guimarães Rosa que diz: “O CORRER DA VIDA EMBRULHA TUDO. A VIDA É ASSIM: ESQUENTA E ESFRIA, APERTA E DAÍ, AFROUXA, SOSSEGA E DEPOIS DESINQUIETA. O QUE ELA QUER DA GENTE É CORAGEM.”



Hoje este amigo, não está mais aqui, mas sempre será o “meu amigo Charlie Brown”, que mesmo em sonhos, sempre me trará uma mensagem de confiança, coragem e amizade, e me fará sempre sorrir.

Obrigada meu amigo Charlie Brown !

Marisa Queiroz


Como no final do texto de Marisa Queiroz "meu amigo não esta mais aqui", assim é a historia de muitas amizades por aí, e como consequencia vem minha afirmação: os melhores amigos sempre são aqules que estao longe!!!!
Diferentemente da autora não tenho facilidade de ligar pessoas a personagens para lidar com as angustias e dificuldades da vida, mas consigo ligar alguns muros dos caminhos a personagens psicoticos e mal compreendidos da ficção, transformo pessoas arrogantes no coringa do seriado do batman, pessoas falsas em Dark Vader e mentirosos e pilantras nos irmãos metralha!!!! Essa é uma forma que encontro de ficar mais atento as siladas que me preparam, as hipocrisias que direcionam a mim e as mentiras que me contam, ao invés de acordar dando risadas como a narradora do texto faz, acordo chorando por saber, que mesmo tendo pessoas perto de mim, num sei em quem e se posso confiar nelas!!!!
Fecho assim as cortinas da peça da minha vida pessoal a quem quer se tornar intimo de mim e vivo de monólogos!!!!

2 comentários:

  1. Nossa eu ADOREI!
    Primeiro que o texto da autora é, simplesmente, encantador e, o melhor, VERDADEIRO!
    E a sua opinião última me mostrou algo que eu já percebi em você e, querendo ou não, em mim!
    Em quem confiar? Como identificar cada detalhe do que possa ser sincero ou falso?
    Criar personagens de desenhos animados é uma forma que pessoa como você, eu, a autora do texto criamos para saber levar o que o dia a dia nos traz, sejam elas boas ou más surpresas!
    Eu não sei como você me vê, se é como Betty Boop, Mônica, Darth Vader... mas, eu te vejo, como um protótipo de Charlie Brown... um Charlie que, talvez, não saiba que exista pra alguém! ;)

    Beiiiiijo!

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  2. Nossa!!! Que texto MARAVILHOSO!!!!

    Esse negócio de criar personagens e compará-los com as pessoas mais próximas é mto bom. Eu faço isso as vezes... NOs faz ver que os desenhos somos nós mesmos, mas vivendo em mundo que talvez não nos pertença... Eu gosto muito do Peter Pan rs... embora ache a Charlie Brown DEMAIS!!!

    bom, é issso!!!!

    adoro seus textos rs

    bjoooo

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